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2010-10-27

Maybe I'm too young to keep good love from going wrong

Não sei o que é que o mês de outubro tem que o faz ser tão... bizarro pra mim. Coincidência ou não, é sempre em outubro que eu fico 

a) deprimida
b) muito feliz
c) alternando estados entre a e b

atualmente estou no c.

E isso me faz escrever como uma louca.

.x.

VI
(I, II, III, IV, V)

all my blood for the sweetness of her laughter

Eu olho pra você e tenho medo, muito medo. De destruir tudo, como eu sempre faço. Você olha pra mim e vê uma pessoa doce e incapaz de fazer mal a uma mosca, eu me olho no espelho e vejo que não é bem assim. Você sabe que há quem ache que eu sou a pior pessoa do mundo e não entende como isso pode acontecer, eu acho que eles estão certos. Não é que eu seja falsa, o problema é exatamente o contrário, não consigo deixar de ser eu mesma nem pra salvar a minha vida. Não sei dar meio-termos, tudo é ódio ou amor, sangue ou riso, branco ou preto, e nessa contradição viro uma aquarela de tons de cinza. Amo a vida e acordo pensando que vou morrer, que não posso morrer, que ainda não vivi o suficiente, que ainda não te vi o suficiente. Meu ódio é uma extensão do meu amor; amor do qual eu falo tanto e nem sei amar, nem poeta eu sou. Não sou ninguém, ninguém me ama, nem amará, não mereço nada, e é tudo drama e você sabe. Quero atenção. Quero um colo e não querer nunca mais sair dele, e quando o tenho não o suporto mais. Quero que você saiba o quanto eu me importo com você, com tudo e com todos, mas que no final das contas também me importo comigo. Quero que você guarde muito bem, com todos os cuidados do mundo, o que tivermos de melhor, porque se eu tiver uma oportunidade vou estragar tudo. Quero que você saiba que a rapidez com a qual eu amo e deixo de amar não significa que não tenha sido importante, quero que você saiba que pra mim é tudo tão intenso que é como se eu tivesse te amado a minha vida toda. Quero que, no fim, se houver um fim, quando tudo o que restar for algumas cartas e fragmentos de nós dois, você saiba que eu fui sua, completamente sua, seja por três minutos, seja por três anos.   

2010-10-26

I wasn't born to have a mother.

Xavier Dolan, canadense, 21 anos, ator e diretor.


Esqueci da vida, me apaixonei pela boca dele. E agora, José?


fuck yeah fuck yeah fuck yeah. depois não sabem porque eu gosto dos filmes canadenses!

2010-10-20

Do you care?


Hoje - meio atrasada, fato - fiquei sabendo do movimento anti-LGBT bullying (e é por isso que você está vendo tanta gente usando roxo por aí), o #SpiritDay. E, antes disso, passando pela sala na hora do jornal, vi uma matéria sobre bullying nas escolas e tudo o mais. Eu já escrevi um pouco sobre esse tipo de crueldade gratuita ainda me assusta e não faz sentido e, claro, todo tipo de bullying deve ser combatido. 

Continuo não entendendo, continua não fazendo sentido pra mim que exista ódio por nenhum motivo, mas ele tá aí. Eu vi, eu senti na pele, e sei muito bem que sair da escola não é uma solução e que, pior ainda, como pode haver solução se a coisa continua dentro da sua própria casa, por exemplo? Homofobia, bullying, todos os tipos de preconceito acontecem o tempo o todo, em todo lugar, e pra muitas (e quando eu digo muitas eu quero dizer bilhões) de pessoas isso continua acontecendo todos os dias. Essas pessoas - e aqui eu me incluo também - são odiadas por outros tantos bilhões que nunca as viram. Odiadas não por terem prejudicado alguém, não por estarem cometendo algum crime, não por algum motivo qualquer. Estão sendo odiadas apenas porque existem, e não é todo mundo que consegue continuar vivendo assim.

Não é como se realmente fosse uma opção, sabem? Não é como se a gente recebesse um cartão assim que nascesse pra marcar um xis em "hetero", "homo" ou "bi". E, ainda que fosse, não é como se todo mundo realmente quisesse escolher ser o que não é "só" pra ter uma vida mais ~fácil~. 

Então... isso tudo só pra dizer eu me importo, sim. Por quem não conseguiu continuar vivendo com tanta crueldade, por quem consegue, por quem ajuda os outros a conseguir. Como bem disse a Dri, usar roxo hoje é apenas um símbolo, mas mesmo que o bullying deva ser combatido sempre, dias como esse são importantes. Muito importantes.

2010-10-18

Encontro Marcado define

Outro dia eu tava conversando com a Tangerina sobre O Encontro Marcado, que vocês provavelmente sabem que é o meu livro preferido de toda a vida. Ele é tipo C.R.A.Z.Y., só que em escala universal. Daí eu estava comentando com ela que leio esse livro pelo menos uma vez por ano, e toda vez que eu leio o vejo de um jeito diferente. Nessa mesma noite em que a gente conversou, tive vontade de ler de novo. 

Faz uns quatro ou cinco anos que leio e releio esse livro, e ele não pára de me surpreender. Não é nem tanto pela história, mas pelo que ele significa, apenas isso.

Eu lembro que encontrei O Encontro Marcado na biblioteca da escola, quando tava na oitava série, metido entre uns livros mais paradidáticos bobinhos. Não sei quem foi que doou aquele livro à escola - ele já era velho, certamente não tinha sido comprado -, mas muito obrigada, hein. Lembro de ler durante as aulas, de parar de vez em quando pra mostrar uma parte que eu tinha gostado pra algum amigo. Parece que faz tanto tempo! E já ali eu sabia que tinha alguma coisa com aquele livro que me tocava de um jeito que nada mais fazia. 

Quando terminei de ler eu soube o que era, e soube também em todas as outras vezes em que peguei pra ler de novo, fosse agora na biblioteca do CEFET ou no meu próprio exemplar. E há apenas alguns dias eu resolvi ler de novo assim, quase do nada, quase por acaso, quase que apenas pra matar a saudade, e de novo eu descubro coisas e vejo outro ângulos da mesma história, das mesmas palavras, e em todas as vezes eu só consigo me identificar mais e mais.

Hoje foi um dia tão feliz, por uma série de coisas, e também porque foi O Encontro Marcado que desencadeou essa série de coisas. Ontem mesmo eu estava triste e tensa, hoje mais cedo eu estava pensando se, afinal de contas, eu era mesmo uma pessoa boa, se eu era útil em alguma coisa, se eu era importante pra alguém (oi, outubro é o meu agosto), e etc. 

Vamos resumir: eu abri o livro e li uma parte que gostava.

E, além de toda a série de coisas, eu percebi mais uma. Uma que eu, de um jeito ou de outro, eu já sabia, mas é fico muito feliz quando "redescubro".

Ser escritor não é ter um monte de livros publicados, não é estar na lista dos mais vendidos, não é ganhar um Nobel, não é necessariamente ser reconhecido profissionalmente como um. Ser escritor é apenas... ser. Como se é tantas outras coisas. Não importa que eu faça Engenharia ou, sei lá, Medicina (!), isso não me faz ser menos escritora, se é assim que eu vivo, se é assim que eu me sinto. Escrever não é necessariamente uma profissão, uma formação, é ser

Bah, que feliz.

2010-10-12

Aceitação do passado, não trabalhamos

 
Hoje eu estava morrendo de tédio e resolvi fazer uma faxina nos meus papéis.

Bad, bad idea.

O lado bom disso é, obviamente, se livrar de sacos e mais sacos de papéis inúteis e deixar o quarto mais limpinho e feliz. Eu guardo muito papel, tanto por pena de jogar algumas coisas fora quanto porque às vezes simplesmente jogo por aí e esqueço que existem (q).

O lado ruim é que a gente tem que ler aquilo tudo. Queria poder jogar fora sem nem olhar duas vezes, mas né. Não rola. Achei bem uns sete (!) cadernos antigos, sem contar com as cartas e outras aleatoriedades.

As cartas.

Essas cartas são relativamente antigas. As mais novas ali devem ter uns dois anos, as mais velhas uns cinco. Engraçado é que antes eu gostava de ficar relendo, e hoje eu gostaria de nem ter encontrado os envelopes. Tirando dessa lista as cartas do Romell (que formam o maior "bolo" (L) ),as outras parecem que foram escritas para outra pessoa, e não pra mim. E olha que eu sempre gostei de cartas.

Foi então que notei que eu não me suporto.

Eu não suporto a pessoa que eu era há alguns anos. Eu não suporto a pessoa que eu era na semana passada!  Eu não suporto lembrar das coisas idiotas que fiz ou pensei, eu passo horas e horas remoendo tudo o que eu poderia ter feito/dito diferente e não fiz.

E, convenhamos, isso já é uma coisa bem idiota de se fazer.

Achei uns manuscritos do Will e achei tudo tremendamente mal feito, mas não tive coragem de jogar fora. Tem umas folhas em que o grafite já tá sumindo mesmo. Achei um monte de cartões de Natal que nunca enviei, e também uns bilhetinhos e desenhos que nunca entreguei a quem deveria.

Achei metade da minha vida escrita em cartas, diários e cadernos que não tive coragem de abrir.

Agora já está tudo guardado de novo, e eu só vou vê-los mais uma vez quando a situação estiver pedindo outra limpeza. Isso talvez me dê tempo pra deixar de ser idiota. É como se recriminar por não saber raiz quadrada aos três anos.

Vai entender.

2010-10-05

I'm Jack's broken heart


Comecei a escrever isso há alguns dias, mas só consegui terminar hoje. Atrasos à parte, esse texto é para a Katherine (aka Júlia) - tenho problemas em associar nicks a nomes, oi - que fez aniversário ontem. Espero que tu goste.


(só um devaneio: eu acredito que pessoas que ganham histórias são muito especiais e essa, obviamente, não deve ter sido a única que tu ganhou ou ganhará. afinal, escrever é o que temos de mais íntimo e querido, e estas setecentas e poucas palavras são pedacinhos de mim, e por extensão de mais um monte de gente. somos todos uns corações partidos, afinal, mas esse nem sempre é o lado triste, não é?)

*

As pessoas – especialmente as mulheres – costumavam lhe dizer que homens não sofrem por amor. Você não sabia exatamente no que acreditar, porque, bem, elas diziam isso e logo depois estavam suspirando pelos dilemas amorosos dos galãs das novelas. Aconteceu com essa definição o mesmo que aconteceria com todas as outras que lhe deram; devagar, quase sempre tortuosamente, você escolheria o que era verdade e o que não era, e isso é sempre tão arriscado. Mas você sempre acaba se sentindo orgulhoso por quebrar a cara pelos seus próprios erros.


(ah, sim. a maior liberdade de todas, poder errar por si)

Mas lá estava ele, a despeito de todas as definições. Você, é claro, já não era mais nenhum garotinho e sabia que sofrer por amor não era exclusividade das mulheres. Você mesmo já tinha passado por isso, mas ao mesmo tempo em que essa deveria ser a prova de que precisava, também lhe fazia pensar se você apenas não passava de um romântico.

Você sempre notou que as pessoas também costumam enfatizar essa palavra, de duas maneiras bem específicas. Havia quem dissesse romântico com um suspiro de identificação e quem dissesse com um bufo de desdém. Você estava bem no meio dessas pessoas, sem saber se deveria ser cético ou sorrir. Ou os dois ao mesmo tempo.

(era tão mais fácil quando os erros eram dos outros, não era? ter culpa – ou melhor, saber-se culpado – lhe trazia uma espécie de prazer um tanto mórbido e especialmente egoísta; não precisar de ninguém para errar, saber que o que dá certo ou errado – especialmente o que dá errado – é conseqüência dos seus atos. ninguém lhe disse que ia ser fácil, você também não esperava que fosse, e então aqui estamos.)

Lá estava ele, afinal, sentado no banco do metrô, olhando ora para as próprias mãos, ora para a janela à sua frente. Você nunca gostou desses bancos virados para o lado oposto do vagão, porque eles obrigavam as pessoas a olharem umas pras outras e ninguém se sente confortável em fazer isso hoje em dia. Até olhar para frente exigia todo um complicado ritual cujo objetivo era conseguir fazer de forma convincente a cara de não-estou-olhando-pra-você-estou-interessado-apenas-na-janela. A janela que, na verdade, geralmente não tinha nada especial que despertasse o interesse, mas estava ali para que as pessoas pudessem olhar para qualquer coisa.

O fato é que os olhos sempre são atraídos por alguém ou por alguma coisa, especialmente os seus. Você não consegue parar de procurar algo pra olhar, e naquele dia você o viu. Naquele dia você não se arrependeu de ter sentado de frente para outro banco, porque podia fingir estar olhando para a janela e na verdade olhar para ele.

(just another Jack)

Você cantarolou mentalmente o verso da música que provavelmente nem existia.

Jack, o homem do metrô, também tinha os olhos inquietos. Paravam em vários outros lugares no caminho que faziam das mãos para a janela e da janela para as mãos. Jack tinha os olhos úmidos de quem está constantemente prestes a chorar, e não parecia patético por isso.

(just another Jack) 

Jack tinha muitas coisas interessantes que fariam você olhar para ele, mas tinha uma coisa em particular pela qual você não tiraria os olhos dele e ao mesmo tempo gostaria de desviá-los.

(I’m not just another Jack)

Jack tinha um coração partido.

Exatamente como o seu.

Partido pelo simples fato de não conseguir segurar tanto amor dentro de si.

(I’m not just another Jack)

Lá estavam vocês, um de cada lado de um vagão cujas luzes piscavam e estalavam de quando em quando, não conhecendo nada mais do que alguns momentos da vida um do outro, transbordando de amor e não tendo onde colocá-lo.

Você queria sentar ao lado de Jack e lhe contar um segredo. Queria contar para ele que você também não sabia onde colocar todo esse amor, mas que isso não era ruim. Queria contar para ele que seus corações partidos batiam por um motivo.

(can you hear it? that’s the sound of my love beating)

Você queria dizer para ele que esse amor foi feito para transbordar.

(bleeding)

Que ele é exatamente como os seus olhos inquietos.

(exploding)

Que ele não pára em um lugar só por muito tempo, mas quando o faz é com tanta intensidade que chega a doer.

(soaking)

Você sorri para Jack e seus inquietos olhos úmidos. Ele sorri de volta e olha para as próprias mãos. Ele sabe.

E, mesmo assim, você gostaria de apenas lhe dizer que quem quer que tenha lhes dado aqueles corações partidos fez um bom trabalho.

(I’m Jack’s broken heart)