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2012-03-22

Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte

“...te procuro em outros corpos, juro que um dia eu encontro.”

Ontem eu sonhei com aquele amigo nosso, você sabe. No meu sonho, ele era loucamente apaixonado por mim, e me contava isso. A gente se dava as mãos e corria, corria, fugindo sabe-se lá de que para ficar sozinhos. Eu sonho com muita gente, você sabe, já sonhei contigo também. Acho que já sonhei com todos os meus conhecidos; pra cada um deles, uma história de amor, e eu gosto de sonhar assim porque gosto de me apaixonar. Mas, sabe, esse negócio de amor tem me tirado o sono, no pun intended. É amor pra lá, é amor pra cá, é amor o tempo todo; será que não cansa? Tudo é sobre amor nessa vida. Eu ligo a televisão e tem história de amor, vou ler um livro e tem história de amor, vou ouvir uma música e é sobre amor... Veja você que não é que eu não goste de ouvir falar de amor; eu até que gosto, mas eu vejo e leio e ouço essas coisas e não sei de onde é que elas vêm. Mas eu queria saber. Queria amar desse jeito que eles falam que existe, desse jeito que ensinaram a gente. Porque quando eu sonho, eu amo assim. Olha que engraçado, eu li em algum lugar que, por mais que pareça ser mais, a gente nunca passa mais do que cinco minutos sonhando. Não sei se é verdade, mas vá, é bonito: todo sonho dura só cinco minutos, e nesses cinco minutos eu já vivi um monte de histórias de amor. E todas elas foram a primeira vez. Só que o problema é que eu acordo, e quando eu acordo o amor já não existe mais. Será que você consegue entender? Eu queria um amor assim, desses que você precisa ouvir a voz da pessoa todo dia, desses que você precisa saber se ela tá bem, desses que a sua vida se enrola na dela de um jeito que as duas viram uma só. Tô aceitando um amor simples, tô aceitando um amor épico – How can I live without my life? How can I live without my soul? Te juro que tô surpreso por essa citação não ter dado o ar da sua graça nos meus sonhos ainda -, tô aceitando amor. Tô aceitando alguém que me ensine. Às vezes eu acho que vocês, que aparecem nos meus sonhos, são sempre a mesma pessoa. Espera, eu te explico. É sempre uma pessoa diferente, mas é sempre o mesmo conceito. Eu me apaixono é pela ideia de me apaixonar, sabe como é? Meio bonito, mas meio triste. Eu sempre tenho dificuldade em decidir se alguma coisa é bonita ou triste, sempre quero ficar com os dois. Eu fico pensando... Será que um dia eu vou amar? Amar assim, desse jeito que eu falei. E aí um dia eu vou virar pra pessoa e dizer “porra, era isso mesmo, eu sonhei com esse amor”, e ela vai achar bonito, sem saber que eu tava só sendo literal mesmo. Mas às vezes eu não acho ruim, sabe. Eu tô aqui falando e falando e não sei nem te dizer quantas vezes eu falei a palavra “amor”, mas a verdade é que às vezes eu nem me preocupo tanto. Mas é que tem dias, assim, que nem esse, em que parece que it’s all about love. Daí eu penso, assim, comigo mesmo: vai fumar, vai trepar, vai aguar uma planta que isso passa. Se passar, tudo bem, no outro dia eu durmo e amo outra pessoa, e a vida continua. Se não passar, aí eu fico tagarelando assim contigo, me lamento pela não existência do amor na minha vida, no outro dia eu durmo e amo outra pessoa. Então é isso, acho que eu vou ali dormir, que isso passa. Mas fica aí o meu pedido, ficam aí os meus versos do dia seguinte que de versos não têm nada. Acho que nem tô pedindo muito; tanta gente pedindo coisa escrota por aí. Um dia, quem sabe, talvez, eu venha a amar, e aí eu te conto como foi. 

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