“...te procuro em outros corpos, juro que um dia eu encontro.”
Ontem eu sonhei com aquele amigo nosso, você sabe. No meu sonho, ele era loucamente apaixonado por mim, e me contava isso. A gente se dava as mãos e corria, corria, fugindo sabe-se lá de que para ficar sozinhos. Eu sonho com muita gente, você sabe, já sonhei contigo também. Acho que já sonhei com todos os meus conhecidos; pra cada um deles, uma história de amor, e eu gosto de sonhar assim porque gosto de me apaixonar. Mas, sabe, esse negócio de amor tem me tirado o sono, no pun intended. É amor pra lá, é amor pra cá, é amor o tempo todo; será que não cansa? Tudo é sobre amor nessa vida. Eu ligo a televisão e tem história de amor, vou ler um livro e tem história de amor, vou ouvir uma música e é sobre amor... Veja você que não é que eu não goste de ouvir falar de amor; eu até que gosto, mas eu vejo e leio e ouço essas coisas e não sei de onde é que elas vêm. Mas eu queria saber. Queria amar desse jeito que eles falam que existe, desse jeito que ensinaram a gente. Porque quando eu sonho, eu amo assim. Olha que engraçado, eu li em algum lugar que, por mais que pareça ser mais, a gente nunca passa mais do que cinco minutos sonhando. Não sei se é verdade, mas vá, é bonito: todo sonho dura só cinco minutos, e nesses cinco minutos eu já vivi um monte de histórias de amor. E todas elas foram a primeira vez. Só que o problema é que eu acordo, e quando eu acordo o amor já não existe mais. Será que você consegue entender? Eu queria um amor assim, desses que você precisa ouvir a voz da pessoa todo dia, desses que você precisa saber se ela tá bem, desses que a sua vida se enrola na dela de um jeito que as duas viram uma só. Tô aceitando um amor simples, tô aceitando um amor épico – How can I live without my life? How can I live without my soul? Te juro que tô surpreso por essa citação não ter dado o ar da sua graça nos meus sonhos ainda -, tô aceitando amor. Tô aceitando alguém que me ensine. Às vezes eu acho que vocês, que aparecem nos meus sonhos, são sempre a mesma pessoa. Espera, eu te explico. É sempre uma pessoa diferente, mas é sempre o mesmo conceito. Eu me apaixono é pela ideia de me apaixonar, sabe como é? Meio bonito, mas meio triste. Eu sempre tenho dificuldade em decidir se alguma coisa é bonita ou triste, sempre quero ficar com os dois. Eu fico pensando... Será que um dia eu vou amar? Amar assim, desse jeito que eu falei. E aí um dia eu vou virar pra pessoa e dizer “porra, era isso mesmo, eu sonhei com esse amor”, e ela vai achar bonito, sem saber que eu tava só sendo literal mesmo. Mas às vezes eu não acho ruim, sabe. Eu tô aqui falando e falando e não sei nem te dizer quantas vezes eu falei a palavra “amor”, mas a verdade é que às vezes eu nem me preocupo tanto. Mas é que tem dias, assim, que nem esse, em que parece que it’s all about love. Daí eu penso, assim, comigo mesmo: vai fumar, vai trepar, vai aguar uma planta que isso passa. Se passar, tudo bem, no outro dia eu durmo e amo outra pessoa, e a vida continua. Se não passar, aí eu fico tagarelando assim contigo, me lamento pela não existência do amor na minha vida, no outro dia eu durmo e amo outra pessoa. Então é isso, acho que eu vou ali dormir, que isso passa. Mas fica aí o meu pedido, ficam aí os meus versos do dia seguinte que de versos não têm nada. Acho que nem tô pedindo muito; tanta gente pedindo coisa escrota por aí. Um dia, quem sabe, talvez, eu venha a amar, e aí eu te conto como foi.