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2012-01-13

Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof

mi.li.tan.te adj. e (s2g.) 1. Que(m) milita ou luta por uma causa, uma ideia, etc. 2. Que(m) participa ativamente das lutas de um partido, sindicato, etc.

a.ti.vis.mo sm. Atuação dedicada a serviço de uma doutrina ou ideal de cunho político-social.

Desculpem o meu ataque de Capitão Dicionário, mas é que eu precisava ilustrar. Eu tive receio dessas duas palavras (e variações delas) durante muito tempo. Passada essa fase do receio, veio outra: a de achar que eu não tinha o direito de me considerar parte do movimento porque não fazia muita coisa por ele. De mais ou menos um ano pra cá, eu entendi, e foi como quando eu entendi o que era ser escritor.

Ser escritor, pra mim, não é apenas uma profissão. Eu digo que sou escritora não porque trabalhe ou estude isso, mas sim porque é o que eu sou.  Não é uma questão do que você faz, e sim do que você é. E com o tempo aconteceu algo parecido com a ideia que eu fazia do ativismo. Não protestar na rua, não carregar cartazes, não ter muita visibilidade... Não é só isso que te faz ser militante de alguma coisa. Hoje em dia eu considero da seguinte forma: o ativismo começa a partir do momento em que você consegue olhar ao seu redor, perceber e questionar o mundo e, finalmente, quando começa a a tocar outras pessoas com essa percepção. Hoje eu entendo, e muitas vezes eu comentei aqui mesmo o quanto estava cansada e de quantas vezes eu me calei. E olha que, em certos aspectos, eu até que sou paciente. 

Mas hoje me aconteceu uma coisa. Eu e um amigo estávamos explicando pra um outro amigo o que é a transsexualidade. Começou do jeito que sempre começa: ele não entendia, não sabia os termos (e são muitos, e são pouco conhecidos), confundia os pronomes, etc. Nós continuamos. Em mais ou menos uma hora, nós já tínhamos falado tudo o que podíamos e sabíamos sobre o que era ser transsexual, ser transgender, sobre como isso não tinha a ver com a sexualidade em si, identidade de gênero e já estávamos chegando no feminismo. Explicar essa caralhada de conceitos geralmente é um questão de paciência e repetição, mas no final da conversa nosso amigo já tinha absorvido exatamente o que a gente tava querendo dizer.

A parte triste é que esse tipo de situação é rara. Na maioria das vezes, o primeiro contato das pessoas com esse assunto não é tão esclarecedor assim. Mas dessa vez foi, e serviu pra me dar mais um motivo pra continuar. Até algumas semanas atrás eu estava cansada e desmotivada com muita coisa, mas hoje não - principalmente depois da abertura do Minoria é a mãe. É que agora eu entendo, por mais doloroso e exaustivo que seja, como vale a pena. Ver o meu amigo começando a refletir antes de trocar os pronomes, entender porque pronome tal era o certo e não o outro, isso sim vale a pena, porque esse é o momento em que você toca o outro. Vamos ser clichês: se não me engano, foi Einstein que disse uma vez que a mente que se abre pra uma nova ideia nunca mais volta ao tamanho original. É bem esse o espírito.

Eu sei que as reações não são positivas assim sempre, é claro. Mas vale a pena, meu bem. Vale sim.

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