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2011-01-27

Remember when you were young

...you shone like the sun

*

No dia em que você entender eu tô salva, ela disse e foi embora, simples assim. Simples como quem pega uma bolsa e sai, como quem dá sinal para um ônibus e entra, como quem joga uma pedra no lago e dá as costas a ele. Mas não importa, realmente nunca importava. Entender é um ato secundário, algo que você nem sempre se lembra de fazer. O que importa agora são os acordes, aqueles acordes, que você descobriu por acaso quando todo mundo meio que já nasce sabendo. Mas uma hora a música acaba, ela sempre acaba, as pessoas sempre se viram e vão embora e você já não está muito certa se está falando da música ou dela. Seja quem for, vão embora, e as coisas deixam de ser bonitas e as cores mais simples voltam a ser apenas as cores mais simples, logo agora que você tinha aprendido a olhar pra elas. E agora, José, mas é fácil, sempre é muito fácil, já não se precisa mais levantar e trocar o lado do disco, agora é só apertar um botão. E agora, José, mas você não aperta. É estranho isso, de não fazer o que se quer fazer. Você pensa que o que falta nessa vida é serotonina, mas veja só, você ainda pensa, quem precisava saber desse negócio de serotonina antigamente? Só era feliz e pronto, havia um nome só. Você aperta o botão, finalmente, e a mágica é essa, fazer o mundo desaparecer e criar um novo, só seu, e quem sabe você chame ela, com os erros de português e tudo o mais. Quem sabe você entenda, ou talvez nem precise mais entender. O difícil nessa vida é chegar na hora certa, o resto se arranja. Você se imagina chegando no mundo cinco minutos mais cedo e cinco minutos mais tarde e pensa o que isso ia mudar antes de se perceber já um tanto louca. É a loucura que faz isso com a gente, você pensa, e se ela estivesse aí perguntaria o quê, e você responderia que é a vida, é a loucura que faz a gente viver, e ela riria e diria que você é um clichê ambulante, ah sim, você é, só te falta uma banheira, umas velas e uma taça de vinho barato. Quem sabe você pinte as unhas de vermelho pra declamar essas frases feitas, isso é o que ela diria, e quem se importa. É assim que as coisas são. A música está pra acabar mais uma vez e te dá um desespero, um desespero real, palpável, de não ter mais aqueles acordes te puxando pra cima quando você deveria estar caindo. Mas a música acaba e ela entra, veja ironia, você é o clichê ambulante e é ela quem entra numa pausa dramática. Deixa pra lá, ela disse.