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2010-12-18

A paixão segundo Soledad


Queria conseguir pensar em outra coisa que não fossem os ombros de Dulce, os olhos de Dulce, a pele de Dulce. Não podia. Desejou que os vestiários da escola não existissem, ou que as garotas não tivessem o despudor estúpido de se despirem na frente umas das outras. Desejou que pudesse apagar da memória o momento em que Dulce se abaixava para enxugar os pés apoiados no banco, os seios pequenos de encontro às coxas, o cabelo preto que mesmo comprido não escondia nada. Não podia deixar de imaginar o quanto a pele morena dela deveria ser macia,ou o quanto conseguiria se perder na sua boca. Desejou ter os cabelos ainda mais curtos do que já estavam, os ombros mais largos, uns centímetros a mais de altura. Voltou a nadar apenas para poder olhar para Dulce na água e imaginar o toque da cintura marcada pelo maiô.

Soledad de los Reyes praticamente desconhecia a existência de Granermano, e o fato de que ele também tinha uma expressão no lugar do nome; isso, porém, era o menor dos seus problemas. Soledad nutria pelo seu nome uma espécie de respeito pelo fato de ele ser tão adequado à ela. 

Era adequado quando as outras garotas fechavam as portas do boxes quando percebiam as sua presença, mais por zombaria do que por realmente acreditarem que ela as olharia. Era adequado quando ria ante da ironia que era um dia - há muito tempo - terem lhe chamado de Sol. Era adequado quando lhe jogaram sutiãs na cara, e quando entreabria o próprio boxe para o despudor de Dulce.

(continua e tal)

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