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2010-12-14

As pequenas coisas


Eu estou cansada e com sono e pensando que absurdo é que eu esteja reclamando disso quando tem tanta gente com problemas milhões de vezes piores do que um fim de semestre para aguentar. Eu estou pensando que existe toda uma manha em ser drama queen, em encontrar pedaços de nostalgia em momentos felizes, em às vezes ter o prazer mórbido de lembrar de coisas ruins só pra ter certeza de que o que é bom deve ser aproveitado. Hoje eu peguei o ônibus na hora certa, e de manhã estava chovendo e isso é bom. Não gosto de sair com guarda-chuva, é tão raro precisar usar e, se precisar, não acho ruim me molhar um pouco. Isso é tão raro, sair assim, com o dia mal amanhecido por causa das nuvens pesadas, quando na semana passada estávamos todos morrendo de calor debaixo de um sol escaldante. Sair assim, com aquele cheiro de asfalto molhado que não é tão romântico quanto terra molhada, mas tem lá seu charme. E o cheiro da chuva quando entra em casa tem algo a mais que não sei identificar exatamente, sei apenas dizer que é algum cheiro da infância, dos tempos em que todos os dias que eu me lembre foram assim, nublados, mal amanhecidos, molhados e extremamente bonitos. É claro que não foram todos assim, mas são os que eu me lembro. É tão humano isso de só lembrar do que é bonito, de apagar automaticamente o que não foi bom, pra depois ficar rememorando em doses homeopáticas como que conferindo se as lembranças ruins ainda estão lá. É tão humano isso de dizer a si mesmo que está tudo bem, de pensar que o ano passou depressa, de pensar que tudo o que a gente precisa é de umas boas férias. É tão humano isso de abrir cadernos, word, blogs há uma hora da manhã pra dizer um monte de coisas sem sentido. E isso de alguma forma me faz pensar que talvez o cheiro da chuva e o cheiro do mar tenham em comum um certo sentimento de desolação maior que tudo, tão maior que vira essa nostalgia que a gente nunca sabe se é triste ou feliz. Vai entender.

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