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2010-08-08

A bridge of sighs

#23 - The last person you kissed

(primeiro, eu espero que tu não se sinta ofendido ou nada do tipo por eu estar postando a carta no blog. deve ter apenas umas trinta pessoas - ou menos - que lêem isso aqui com freqüência, e mesmo assim a grande maioria delas está cagando e andando pra ti, porque elas simplesmente não te conhecem. e com a minúscula parcela de pessoas que te conhecem tu também não precisa se preocupar, porque não tem nada aqui que te ridicularize ou alguma coisa assim. até porque, veja bem, como em todas as outras cartas, essa aqui, no fim das contas, fala mais de mim do que do destinatário (no sentido do que ela transmite, e não necessariamente do que está escrito), e todas as outras cartas foram/serão postadas aqui também, e não tem nada em ti que te faça diferente - pra melhor ou pior - dos outros destinatários para que eu tenha algum tipo de reserva especial com essa carta especificamente. e não, isso não foi um modo de tentar te diminuir nem nada assim.

segundo, no extremo oposto e só pra garantir, espero que tu também não fique ofendido com o fato de eu ter pensado que tu poderia se ofender. é apenas o procedimento padrão.

terceiro, especialmente hoje eu não estou tentando fazer piadinhas de propósito. se tiver alguma aí no meio de caminho, é puramente incidental, só o meu jeito de falar/escrever mesmo. pra quê que eu tô explicando isso? haha q.)

.x.

Então, né. Eu não quero me repetir muito - o que talvez se mostre inevitável -, então vou tentar pular os assuntos que a gente já falou em outras cartas e ocasiões.

Tu tem sido uma parte muito importante da minha vida nesse último ano e algns meses. Eu não passo o dia todo pensando em ti nem nada do tipo, porque simplesmente não sou de fazer essas coisas, mas tu entendeu.

Sabe do que eu sinto falta? Do começo. De quando ainda era tudo muito inocente, e não apenas nesse sentido que você está pensando agora. No começo as coisas sempre são muito legais, não é? A gente não percebe - não quer perceber, na verdade - os defeitos, e tudo sempre pode dar certo. Naqueles tempos dourados - que apesar de terem acontecido há apenas um ano e alguns meses, me parecem estar há séculos de distância - a gente até pode pensar que éramos pessoas diferentes das que somos agora, mas não éramos. Sempre fomos os mesmos, mas à medida que o tempo passa as coisas vão aparecendo.

Nós somos irreversivelmente incompatíveis em muitas coisas que, infelizmente ou felizmente, dependendo do ponto de vista, só são percebidas com algum tempo de convivência. Por isso que aquele começo foi tão tranqüilo, e por isso que ele não pode voltar mais. Santa ignorância. E que merda a intimidade se torna, hein.

Eu acho que muitas vezes tu se pergunta por que diabos eu sou tão desconfiada. Como naquele disclaimer enorme lá no começo da carta, por exemplo. Mas é como eu disse, é o meu procedimento normal. Eu sempre penso que posso acabar ofendendo alguém com alguma coisa que não fiz por mal (sério, eu posso ser inocente assim, rs), e no teu caso isso é elevado à enésima potência, porque a gente tem uma falha de comunicação natural. Por isso que às vezes eu prefiro deixar tudo bem explicadinho e sem sombra de dúvida. E como nós também não somos exatamente pessoas ~delicadas~, muitas vezes uma conversa que poderia ser bem simples toma proporções absurdas.

Como eu te disse uma vez, tu já deve estar de saco cheio dessas minhas cartas que não são exatamente ~cartas de amor~. A maioria das cartas que eu te escrevi, que nem foram tantas, afinal, não são do tipo que a gente guarda com carinho no coração. Mas, convenhamos, em grande parte delas - senão todas - tu mereceu. O problema, se é que existe um, é que eu não escrevo nos momentos legais. E tu só me escreve nos momentos legais, me dizendo coisas bonitas que eu sempre vou achar que não mereço. Eu não sei se tu percebeu isso, mas eu não te dou nada em troca. Tu diz que me ama e o diabo a quatro, e o que eu dou em troca? Nada. Presença, no máximo. É por isso que eu sempre acho que não mereço.

Porque, sabe, eu fico agoniada de ver que tu realmente gosta de mim. Não vou dizer amar, porque a tua definição de amor é tua, e eu não vou mexer com ela. Eu fico agoniada principalmente porque sei que não posso retribuir isso, e então não quero que nada dependa disso. Não é uma questão de traumas ou de ser travada, ou qualquer coisa do tipo, não dá pra resumir tudo a isso. (sei que essa parte talvez te faça lembrar daquele episódio lá na parada de ônibus na semana passada, mas acredite, eu estou falando de coisas em geral e não daquilo) Se eu não fiz uma coisa, não é porque eu tive um trauma de infância/adolescência que me trava. Pode ser simplesmente porque eu não quis fazer. Porque eu não tive vontade. Porque não poderia fingir. Só isso.

Mas aí nós já estamos entrando nos assuntos de cartas anteriores, e vamos tentar manter essa inédita.

Eu passei muito tempo da minha curta vida orbitando uma pessoa só. Isso não é nada bom, sabe? Eu não quero que isso volte a acontecer, eu não quero viver a minha vida em função de outra pessoa. Isso soa bem egoísta e, bem... é mesmo. Eu sinto as coisas de um jeito bem extremista, mas com a mesma rapidez que o entusiasmo vem, ele vai. Tu fala muito de sair da rotina e fazer coisas novas e aventura, aventura e, bem... do meu jeitinho egoísta, é quase isso mesmo que eu sinto.

Mas, calma, eu não estou reclamando nem nada. Estou só falando mesmo. Ou melhor, estou escrevendo porque assim não seremos interrompidos por eventuais desentendimentos. E, bom, nem poderia ser uma reclamação, porque agora até que nós estamos muito bem, obrigada. Pelo menos eu tô achando, né. Não sei tu. Mas enfim.

Eu acho que tu não concorda inteiramente com o que eu vou falar agora, mas eu achei muito bom esse mês de férias que a gente teve. Não pelo óbvio descanso das coisas do CEFET, mas simplesmente pra gente passar uns bons vinte dias sem se ver. Entenda, não é por mal. É só que essa coisa de se ver todo dia não é comigo. Aliás, não exatamente se ver todo dia, porque tem um monte de gente que eu vejo todo dia - minha mãe, por exemplo, haha q -, mas o problema mesmo é ficar grudado, sabe? Não tô dizendo que tu é grudento, eu é que sou... a palavra que é o contrário de grudento. Até porque, de certa forma, passar o tempo todo do lado de uma pessoa só, é quase o mesmo que viver em função disso. Sei que tu pode pensar que "ah, mas são os únicos momentos que a gente têm juntos e tal", mas são suficientes pra mim. Desculpa, mas são até demais às vezes. Mas isso é só o jeito que eu penso e sinto, não é que eu esteja tentando de convencer a fazer o mesmo.

Eu gosto quando a gente tá junto, se divertindo, rindo, falando as coisas mais idiotas da face da terra e das quais nenhuma outra pessoa com mais de dois neurônios ri. Eu gostava quando tínhamos amigos em comum. Eu gostava quando a gente saía e conversava sobre os mesmos assuntos, ora sérios, ora não. Eu gostava do começo, resumindo.

Tu não deve estar acreditando muito nisso a essa altura da carta, mas não, eu ainda não estou reclamando de nada. Não é o meu objetivo hoje. Estou só falando a verdade, como eu tenho tentando fazer sempre de uns tempos pra cá. Só que, claro, a verdade nem sempre é uma coisa muito legal. E eu não tô te culpando exclusivamente por todas as coisas que deram errado - não foram poucas, né -, porque eu obviamente também tenho uma boa parcela nisso tudo.

Coisa que eu não costumo fazer é falar das coisas boas. Se bem que eu até falei, né, do começo e tal. Eu gosto principalmente quando somos amigos, acima de qualquer coisa. Sei que a tua "hierarquia de sentimentos" não põe a amizade em tão alta conta assim, mas é assim que eu sinto e ponto final. Eu não vou mudar, e gosto disso. Gosto quando a gente não tem obrigação nenhuma de gostar de estar um com o outro, de quando a gente fica junto porque os dois querem e não porque um vai ficar irritado se o outro não estiver ali.

Eu acho que deixei parte do meu romantismo em algum lugar do fim do ano passado. Mas é assim mesmo. Vamos levando. Deve ter alguma coisa - que pode ser tanto a tua persistência quanto a minha falta de firmeza. ou até mesmo os dois. eu não vou dizer que é ~amor~ porque, como eu disse, meu romantismo foi tirar férias e de lá não voltou - que nos faz continuar juntos. 

Eu dei uma pausa de meia-hora aqui e não sei mais como continuar. Que bom, porque eu acho que não teria terminado hoje. Enfim, acho que é isso. Qualquer coisa, tamos ae.

(p.s.: ainda bem que não temos aquelas viadagens de "desliga tu primeiro!". sério.)