Páginas

2010-06-26

It's in the special way we fuck

Eu tenho uma relação meio estranha com as definições de amor. Pra início de conversa, elas me irritam. Depois eu começo a achá-las interessantes. Estranho.

Eu odeio profundamente quando me pedem para definir coisas que eu sinto. Se eu tô sentindo, é porque não tô afim de definir especificamente, saca? Não que eu esteja com raiva, é só que queria... sei lá, falar isso. Acho desconfortável, irritante e inconveniente pedir a uma pessoa que ela diga o que sente por você.

Vamos desenvolver isso. Lembrando que não estou me referindo a ninguém em particular.

Eu sou uma pessoa insegura pra cacete em algumas coisas, e em outras eu me acho a última bolacha do pacote. É. Eu não saio por aí perguntando se as pessoas gostam de mim ou se me amam e muito menos pedindo para especificarem exatamente como gostam/amam. Tenha em mente que você sempre pode ouvir o que não quer. Eu não gosto de sentir que alguém é dependente de mim e precisa ficar me perguntando isso pra se sentir segura/o. 

Eu tenho pânico supremo e absoluto de ouvir "eu te amo" e seus derivados. Heh.

Acho que existem vários motivos. O primeiro deles é que se uma pessoa me diz isso - e já me disseram vezes o suficiente para que o trauma pegasse, mas não o suficiente para que eu me sentisse efetivamente amada - eu automaticamente penso que não poderei retribuir e entramos no dilema da gangorra, onde um sempre se dedica mais do que o outro e as coisas se tornam injustas. Outro é que eu automaticamente também penso que a) não mereço porque a pessoa é legal demais e eu nem sou, b) não mereço porque a pessoa é um cu, c) ela tá tirando com a minha cara. (e não me venha perguntar em que alternativa você se encaixa também. tomar no cu com as definições.)

Eu posso ter pedreiro feelings às vezes - erm... muitas vezes -, mas tento evitar deixar alguém na merda quando posso. Por isso que quando alguém me vem com o clássico "Tu me ama?" eu fico com aquela cara de bunda e dou uma enroladinha. Acho que não é "só" porque eu sou um desastre em demonstrações de afeto, mas simplesmente porque não acho que seja simples assim. Não funciona pra mim. Não é como dizer "bom dia" ou "como a sua blusa é bonita!"

Eu amo muitas pessoas e muitas coisas, mas odeio profundamente ter que ficar colocando isso em escalas de intensidade, comparando e definindo padrões em frases prontas. Eu apenas sinto e demonstro como posso, o que não é a melhor solução, mas é o que posso fazer. As palavras são lindas, uso-as para muita coisa, mas em casos de amor eu ainda acho que gestos valem mais do que "eu te amo" e afins.

Bah.


2010-06-25

Sucrilhos


Hoje foi o último dia de prova desse semestre, finalmente. O que significa que estou de férias, e só preciso voltar ao CEFET semana que vem pra achar um professor arredio e buscar uma prova. Enfim, hoje era o último dia lá na Casa de Cultura e tal, todo mundo do lado de fora da sala esperando a sua vez de fazer a prova oral e procurando duplas e, claro, conversando. E, apesar de ter trocado no máximo uma dez frases extracurriculares com eles durante todo o semestre, resolvi ~socializar~ também.

Então tudo bem, eu estava lá socializando com as pessoas, interagindo com as pessoas, e todas essas coisas bonitinhas, quando chega o assunto dos cursos. Aí o cara vira pra mim e pergunta O que é que tu faz? E eu respondo, obviamente, Informática.

Aí chega aquele momento. Detesto isso.

O momento é quando a pessoa que perguntou fica te olhando com uma cara meio pensativa, e aí finalmente pergunta Mas quantos anos tu tem? e eu respondo muito angelicalmente Dezessete (a um mês de fazer dezoito, com cara de dezesseis e altura de catorze, mas claro que eu não disse isso). E aí eu não entendo por que cargas d'água a pessoa geralmente leva um susto e pensa mais um pouco até dizer Ah, tu tá começando, né? E, bom, aí eu tenho que informar a verdade, Não, eu já tô terminando. 

E aí eu não entendo por que as vezes as pessoas olham como se eu estivesse fazendo uma piada, ou como se não tivesse direito de estar quase no final de um curso aos dezessete anos.Não é uma coisa difícil de imaginar, sabe? Existe um negócio bonito chamado técnico integrado, as pessoas entram geralmente com quinze e saem com dezenove. É a vida, cara. 

Isso só não é pior do que aquela sua vizinha alienada da vida  - que amorosamente chamarei de Blé - que te pára no meio da rua às sete horas da manhã pra perguntar E aí, como é que vai o CEFET? todo santo dia. Sendo que antes, quando soube que você estava no CEFET (e é O CEFET, pelamordedeus, parem de trocar o sexo do instituto) aconteceu o seguinte diálogo:

Blé: E aí, como vai a escola?

Eu: Eu saí de lá, agora tô no CEFET :D

Blé: Ah, que legal! O que é que tu faz lá?

Eu: Informática.

Blé: Ah! E por que que tu parou de estudar? D:

Dá pra entender? .________.

2010-06-09

Life has just began

Pseudo IV

*

Tenho essas idéias-com-acento flutuando na minha cabeça. Eu ouço a música e vejo as pessoas dançando. Vejo o amarelo vestindo aquele metro e sessenta de moça, os pezinhos metidos nos sapatos claros, o olhar tímido para as mulheres de vermelho que fumavam e riam, o olhar tímido para o rapaz de farda - ela ainda não pensava que os rapazes de farda acabavam morrendo um dia. Ela ainda não pensava que todos acabavam morrendo um dia - mas, sim, especialmente os de farda. A bandeira tremulando, um punhado de risadas. Vejo-a sentada na mesa com as mãos castamente postas sobre o colo, e então vejo o rapaz cansado da guerra da qual nunca participou - que não era aquela onde as bombas explodiam, que não era aquela que precisava de fardas e bandeiras. Vejo-os, talvez, não-segurando bebês no colo, não-dizendo que se amam, não-vivendo tantas outras coisas e, mesmo assim, sonhando e sonhando e sonhando e não chegando a lugar nenhum.

Talvez tenham sido mesmo os olhos dela, afinal.

(quem precisa de coerência. heh.)

2010-06-03

Estejamos

Eu quero ficar sozinha.

Às vezes - muitas vezes, sejamos justos - as pessoas não entendem quando eu digo essa frase.

Eu gosto de ficar sozinha.

Imagina essa daí, então.

Acho que talvez pensem que eu dizer isso é meio contraditório. Porque, veja bem, eu gosto de estar com pessoas, conversar, rir. Essas coisas. Gosto mesmo, de verdade. Não sou uma pessoa muito sociável, isso é fato, e não tenho a menor facilidade de fazer amigos (como no curso de inglês, no qual eu raramente dirijo a palavra a alguém e vice-versa), mas com os amigos de longa data eu não me canso de estar. 

Estar. Eu gosto desse verbo. 

Não só conversar ou rir ou fazer alguma coisa. Tem horas em que eu prefiro apenas estar

Eu gosto de atenção, e muito! Eu quero ser lembrada, quero que me ouçam, quero que saibam que eu estou ali. Não - não apenas - para ser o centro das atenções (nem sou sociável o suficiente pra isso), mas para estar.

Eu estou na sua vida, você está na minha. É esse o tipo de relação que eu cultivo.

Então, onde entra o "sozinha" nisso tudo?

Acho que a minha definição de estar sozinha talvez seja diferente da habitual definição física. Eu posso estar rodeada de pessoas, mas mesmo assim estar sozinha. Como hoje no cinema, que fiquei tão sozinha e pensando na vida, universo e tudo o mais enquanto o filme não começava que minha irmã teve que me cutucar pra "me acordar".

Estar sozinha significa, pra mim, estar apenas comigo mesma. Pensando, ficando ali, naquele lugarzinho reservado da minha mente. Às vezes, acontece de isso coincidir com um dia em que eu realmente não quero ficar perto de ninguém. Aí eu me isolo. Ah, eu penso tanto. Eu quase não durmo, de tanto que eu penso.

E eu preciso tanto das pessoas. Não só dos amigos e pessoas que conheço, embora eles sejam os mais importantes nessa equação toda. Até das pessoas que vejo no ônibus eu preciso. Hoje é feriado, tinha pouca gente nas ruas, e eu senti falta delas. Eu preciso de alguém para pensar sobre. 

Acho que algumas vezes eu disse - não aqui, mas para alguém - que meu maior medo é ficar sozinha. Mas sozinha no sentido de "sem ninguém para estar comigo".

Eu posso não ser a pessoa mais calorosa e/ou amorosa do mundo, mas é esse o meu jeito de fazer com que você, caro amigo ou pessoa que eu vi na rua, saiba que eu me importo. Eu quero estar com você. Nem que seja só pra pensar sobre você.

Porque eu acho que, no fim das contas, eu não quero ter que parar e pensar em mim mesma. Porque aí eu chego no ponto em que percebo que, afinal, existe um lugar em que eu estou realmente sozinha, em todos os sentidos.  

Então, estejam.