Pra você ver como a vida nunca pode deixar de ser irônica - e eu tenho quase certeza de que usei essa frase em alguma história -, foi no semestre mais chato e desestimulante de todos que eu decidi de uma vez por todas que não estou no curso errado. A grande epifania do mês foi descobrir que estou na área certa, mas na especialidade errada.
Então, a um semestre de acabar o curso, eu tenho certeza de que quero trabalhar no ano que vem, e de que quero trabalhar na área. Tenho certeza de que não foram quase quatro anos perdidos, porque eu aprendi, porque eu posso não ser um gênio, mas sei me esforçar. E, além de tudo, têm sido uns dos melhores anos da minha vida, apesar dos ataques de nervos, das pessoas desistindo e das conversas sobre "o que estamos fazendo aqui?" toda semana.
Resumindo, o que eu queria mesmo era lidar com webdesign/design gráfico ou biorobótica. Duas coisas completamente diferentes, mas a primeira é o que eu sei que seria gostoso de se trabalhar e a segunda é o tipo de coisa que eu preciso fazer.
Agora é que vem a explicação grande.
Mamãe ficaria surpresa de me ouvir dizer isso, mas, do alto do meu egoísmo latente, eu tenho uma espécie de necessidade de fazer algo útil pelos outros. Não posso mudar o mundo, tenho consciência disso e, de certa forma, tenho consciência de outros tantos limites meus, mas o fato é que eu realmente gostaria de fazer algo assim e sei que me vou me sentir se não inútil, pelo menos incompleta até fazer algo assim. Queria a biorobótica porque, dentro da Computação, é uma das áreas em que essa utilidade é menos abstrata e mais real. Membros para quem não os tem, sensores para quem não vê ou ouve. Meu irmão uma vez me disse, meio amargurado por não ter seguido esse caminho, algo como "por que o homem pode viajar até a lua e não pode fazer uma pessoa sair da cadeira de rodas?". This.
(antes que perguntem, eu nunca tive estômago pra sequer cogitar Medicina. não vai ser nessa vida, pelo menos. sou viadinha demais.)
Escrever é um dos meios (aparentemente) abstratos de ajudar e ser útil, mas de certa forma, pelo menos no meu caso, é uma arte egoísta. É a minha forma de propagar o que eu sinto e preciso sentir em vidas que não existem, em cenas que nunca vão acontecer e, sim, é uma forma de distribuir o amor também.
É por essas e outras que, contradizendo esse meu apreço pela ciência, decidi também (espero que essa decisão dure) fazer ou pelo menos tentar fazer Letras. Se não agora, pelo menos no futuro próximo. Não quero chegar a lugar nenhum dizendo que não fiz nada do que queria ter feito. Letras também tem o lado solitário da tradução e revisão, mas tem as aulas. Ser professora é o meu desejo secreto desde muito tempo, e provavelmente nasceu do desejo nada nobre de querer estar certa e mostrar aos outros que sei do que estou falando. E junte-se a isso aquela necessidade de ser útil e de transformar em palavras tudo o que eu quero dizer e voilà.
(claro, sou uma porta de tão anti-social/tímida/sociofóbica/seu termo favorito, mas se eu nunca passar por cima disso por mim, quem vai passar?)
Eu nunca fui tão decidida assim, sabe. Minhas grandes decisões eram coisas de momento, de birra, passavam depois de um tempo. Mas essas são as coisas que estão na minha cabeça - e no meu coração, por que não? - desde sempre e que só agora eu comecei a organizar em metas e resultados concretos. De certa forma, acho que foi por causa do baque. Sempre é por causa de um baque. A gente cai por algum motivo e se levanta um pouco mais forte, um pouco mais esperto, um pouco mais decidido e, claro, um pouco mais amargo. Dessa minha última queda veio essa força de vontade e essa fidelidade à mim - mais forte e renovada - que talvez não tivessem se manifestado enquanto eu não parasse e começasse a ver que da minha vida sou eu quem decido e sou eu quem me fodo. Che disse que hay que endurecer, pero sin perder la ternura, e não sou do DCE nem faço passeata, mas concordo.