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2010-04-25

Please, please, please, let me get what I want


Sabe quando você sente que tem alguma coisa errada acontecendo? Às vezes você não sabe o que é, às vezes sabe, mas o que fica é aquela sensação de existe alguma coisa, qualquer coisa, terrivelmente fora do lugar.

(alguma coisa que se perdeu já há algum tempo, e que de algum modo você sabe que não tem conserto, apesar de tentar de tudo para que tenha.)

2010-04-14

Livre arbítrio, quem curte


We're flying high
We're watching the world pass us by
Never want to come down
Never want to put my feet back down
On the ground

Never let me down, never let me down

Never let me down, never let me down

See the stars they're shining bright

Everything's alright tonight

2010-04-11

Color my life (with the chaos of trouble)

 II
(não tem a ver com o I, exatamente)

Havia, é claro, duas pessoas. Havia, sim, nos olhos dele uma cor que não era a da íris, uma que não se define por já ter sido vista, mas sim por já ter sido sentida. Havia nele aquela cor que emana dos que vivem - dos que realmente e sinceramente vivem - e portanto não era uma cor que se sentisse todos os dias, ou em todas as pessoas. Havia, é verdade, no outro ele uma cor diferente, que também não era daquelas com as quais se costuma definir as coisas visíveis, mas sim uma cor mais calma. Havia nesse outro ele um tom mais pálido da cor do primeiro; não era a dos que vivem, tampouco a dos que morrem, mas sim a dos que conseguem. Viver talvez fosse restrito demais para os que conseguem. Conseguir talvez fosse pedir demais para os que vivem.

Havia, é claro, duas pessoas. Havia, sim, a mistura dos matizes quando os olhos se fechavam e as cores fluíam para as bocas. Havia o reconhecimento de que foram separadas um dia, as cores, e também o desejo de se unirem novamente. Havia, é verdade, a hipocrisia de cada um em dizer que aquela era a última vez. Havia o momento - pequeno, trêmulo, obscuro - em que a separação tornava a acontecer, e era como um parto, como aquele mesmo parto em que - em épocas diferentes, porém da mesma fonte - vieram as duas cores, as duas pessoas, a mistura única. Terminar de viver, afinal, foi o que ele conseguiu. Continuar conseguindo, afinal, foi tudo o que o outro viveu.

2010-04-09

I know you tried

Straight into my heart
You fly straight into my heart
But here comes the fall...


Algumas vezes me perguntaram se eu sou romântica, e acho que eu não sei responder isso. Porque às vezes penso que sou, às vezes penso que não. Talvez eu seja no sentido de ficar imaginando coisas, possibilidades, de ficar sonhando e sorrindo feito boba. Mas não sou pessoa de abraços e carinhos, não sou pessoa de dizer eu te amo todo dia, não sou pessoa de sequer demonstrar que me importo. Não sei porque diabos eu saí desse jeito meio errado. Porque, sabe, as pessoas merecem saber que são amadas. Eu não sei fazer isso, nunca me ensinaram, não veio de fábrica. Não sei se vou "aprender" um dia. Tenho meus jeitos - sutis até demais, eu sei - de demonstrar sentimentos, e às vezes penso que se um dia eu aprender a demonstrá-los de outro jeito - o jeito "certo" - não serei mais eu. É estranho isso.

Mas, enfim, no capítulo oito de Verona existe uma passagem que é simplesmente tudo o que eu nunca consegui colocar em palavras. Talvez eu nunca tenha conseguido porque era algo que eu mesma só poderia entender melhor vendo de fora. E não tenho nada mais a acrescentar, porque aí tem tudo. Obrigada, Dana ♥

*

(trecho do capítulo 8 de Verona, da Dana Norram)


"Admito que pensei em dizer as três palavras, porém, por mais que soubesse o quão verdadeiras elas seriam, eu simplesmente não pude pronunciá-las. Admito que sequer conseguia pensar nelas sem que soassem inapropriadas e ridículas aos meus ouvidos.
Eu quis dizer que tinha sido bom. Maravilhoso. Que fora a melhor noite da minha vida. Todas essas coisas bobas e românticas que parecem estúpidas e forçadas demais quando pronunciadas num momento como aquele. Eu quis dizer que te amava e que estava feliz em tê-lo, finalmente, ao meu lado. Que eu adoraria fazer de novo e de novo e de novo.
Mas não consegui.
E durante os meses que se seguiriam, eu fiquei pensando naquela oportunidade perdida. Não a primeira, claro, mas talvez a mais importante delas. Pensei em como a minha falta de palavras afetara a nossa relação. Refleti sobre cada situação que poderia ter sido evitada se eu tivesse sido apenas sincero no momento em que eu precisava ser. Se tivesse dito o que eu tanto quis dizer, mas que não encontrei formas de demonstrar, sem que para mim soasse tolo ou oportunista.
Eu pensei que você iria rir de mim, sabe? Que não acreditaria, no fundo, pura e simplesmente. Pensei que você acharia que eu só tinha dito aquilo pelo calor do momento e que, obviamente, não sentia tudo aquilo por você. E em meio a todos aqueles 'e se?' acabei optando pelo silêncio. Imaginei, na época, que haveria outras oportunidades para usar as três malditas palavras e que aquela oportunidade que surgisse, fosse qual fosse, seria sim a ocasião perfeita. Mas não naquela hora. Não quando deveria ter sido. Não quando você precisava ouvir, mais do que tudo.
Eu estava errado, era claro. Deveria ter falado quando passei todos aqueles incontáveis minutos contando as batidas do seu coração, sentindo elas diminuírem até se acalmarem por completo. Quando você se aconchegou, mais perto, reforçando o abraço em torno de mim e em seguida puxou um lençol sobre nós, resmungando como estava ficando frio. Aquele momento em que cada gesto seu dizia, claramente Quero que você fique aqui. Comigo. Quero que fiquemos juntos. Agora. Para sempre.
E eu até fiquei, sim. Até o fim. Mas não fiz nada mais. Eu me omiti outra vez. Nem mesmo horas e horas depois, na manhã seguinte, quando acordei ao seu lado. Quando você também acordou instantes depois, graças aos meus movimentos desajeitados, e então sorriu, me desejando bom dia. Eu tampouco falei daquela vez.
E em nenhuma das outras vezes."

2010-04-07

Enjoy the silence

I

Talvez tenham sido os teus olhos.

Ele disse, e aquela foi a última coisa. Ela gostaria de ter entendido, mas para entender teria que lembrar, e para lembrar teria que amá-lo, e já não amava mais. E aquele instante passou, leve como uma pena que cai na água e não faz ondas, leve como os sorrisos não trocados e as palavras não ditas, leve como as coisas que já não existem mais. Naquele instante, ela o amou, amou muito, mais do que tudo, mais do que a si mesma, mas o momento já havia passado e ela chorou, porque não poderia mais entender.

Talvez tenham sido, sim, os teus olhos. Ele gostaria de ter podido dizer até o fim, pois sabia que ela não iria lembrar. Porque eram eles que viam, que choravam, que sorriam. Apaixonei-me pelos teus olhos antes de tudo, antes de apaixonar-me pelas tuas mãos, pelos teus sorrisos raros, pelos teus suspiros no meu ombro. Mas ele não pôde dizer, e ela não pôde lembrar. O instante, que lhes era a vida inteira, acabou.