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2011-10-14

I'll just leave it here

sexta-feira. devolvi todos os livros que estava devendo na biblioteca, peguei o meu diploma (título conferido: técnico de nível médio), constatei que por algum motivo as minhas duas reprovações em física não estão no histórico. não que eu esteja reclamando. tinha um real e sessenta e cinco centavos no meu bolso, atravessei a rua e comprei um picolé (que palavra feia é picolé) que custava exatamente isso, só pelo prazer de achar que foi o destino. reneguei as letras maiúsculas, a pontuação acertada e os parágrafos; sintomas de outubro. meu pulso direito ainda arde e dói; sintomas de uma tendinite antecipada pelas dez horas diárias usando o mouse. ainda bem que sou canhota; só não posso é não poder escrever. é só fazer umas pausas de vez em quando, said the doctor. mas doctor who agora só no especial de natal, que vida é essa. hoje o cara que segurou minha mochila no ônibus ficou com pena por causa do peso. existe toda uma arte em identificar quem tem cara de que vai descer logo e ficar por perto; no fim das contas, pegar ônibus acaba sendo uma atividade de caça. não posso negar que até gosto dos ônibus, contanto que a) não sejam assaltados, b) dê pra respirar, c) não tenha um livro de cálculo enorme na minha mochila, d) ele não dê o prego em lugares obscuros. não consigo evitar de ficar observando e de certa forma catalogando essas pessoas que a gente vê todo dia, na mesma bat hora, no mesmo bat local. a moça ruiva de cabelo cacheado da fila do terminal, que se encosta na janela e desce três paradas antes de mim; o rapaz de olhos claros que tem uma barba que o faz parecer um ator de filme do almodóvar, seja lá que o isso signifique ou por que fiz essa associação; o garoto de no máximo uns catorze anos que leva o violão e tem os mesmos olhos da mãe, uns olhos tão absurdamente comuns, mas que são tão bonitos só porque são doces; e até o cachorrinho da casa na esquina do ponto de ônibus, que sai pra fazer xixi no poste sempre que eu vou atravessar a rua. os livros que comprei chegaram, entre eles o do asimov, faz tempo que não leio ficção científica e vai ser bom. pra falar a verdade, até ando com vontade de escrever ficção científica qualquer dia desses na vida. vamos ver se não dá merda. enquanto isso, na sala de justiça, a fúria dos reis continua esperando pra ser lido, vou ver se começo hoje junto com a histórias de robôs. é um bom contraponto, e eu precisei do google pra saber se contraponto tem hífen ou não. agora vou te contar o problema de se escrever desse jeito, meio sem começo nem final: é exatamente ficar assim, meio sem começo nem final, porque você não sabe onde como quando por que termina. talvez sejamos viciados em finais, porque eles deixam as coisas mais seguras, mais definidas. não sei. vou considerar isso como um final. pronto.

Um comentário:

.laurel. disse...

gostei :)
e estou sem ter o que falar de verdade, sorry :/