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2011-08-21

Abismo que cavastes com teus pés

Acho engraçado esse consenso de que a minha vida é muito fácil. De que eu não penso em nada, não tenho problema nenhum na cabeça. É verdade, sim, que não tenho ainda conta atrasada pra pagar, filhos pra cuidar, casa pra manter, nem nada do tipo. Portanto, minha vida é fácil. Fair enough. Pena que, mesmo sabendo que todos os meus problemas são frescuras e invencionices da minha cabeça que não tem mais o que pensar, eu ainda os sinta como se fossem reais. Pena que mesmo assim eu continue chorando no meio da noite, em pânico, com a certeza de que vou morrer no dia seguinte. Nunca morri nesses supostos dias seguintes, mas eventualmente vou, e vou continuar tendo que sair de casa nesses dias, como se estivesse tudo bem, como se eu não me sentisse por um fio. E o que vai restar vai ser um monte de palavras que não vão dizer nada sobre mim, e assim terei passado pela vida sem ninguém ter realmente me conhecido. Viver é muito difícil às vezes - bem, quase o tempo todo, com algumas exceções, na verdade. Cada vez mais penso que a vida que eu acho tão bonita e tão cheia de pequenos prazeres também deve ser coisa da minha cabeça.

Eu não gosto de escrever assim. Vejo a raiva que eu estava no começo do post e acho tudo muito triste e ridículo. Soa como se eu realmente estivesse no fundo do poço. A verdade é que ontem eu estava bem feliz, conversando, rindo, assistindo televisão na sala, cheia de planos. Escrevi, assisti filme, descobri todo um novo sentido na vida, me senti renovada, viva. Dormi depois das quatro da manhã, elétrica. 

E agora isso. Desconfio que estou alternando entre esses dois estados há meses. Mas é que eu finjo tão bem que às vezes nem eu percebo.

E pensar que quando me passaram anti-depressivos eu fiz piada, achei que quem tava meio maluca era a psiquiatra porque, claro, eu estava perfeitamente bem.

Sei.

3 comentários:

Giu disse...

[]

nádia c. disse...

"Eu não gosto de escrever assim. Vejo a raiva que eu estava no começo do post e acho tudo muito triste e ridículo. Soa como se eu realmente estivesse no fundo do poço. "


me sinto muito ridícula também quando eu desabafo no meu blog
é como se eu não tivesse ninguém para falar, fosse uma loser with no friends.

mas pensando agora, quando isso acontece, quer dizer que a gente está falando pra quem realmente quer nos ouvir, quem vai até a nossa página e nos lê, é.

Chrissie disse...

Ei, Moony, fazia muito tempo que eu não lia nada seu, estava com saudades. De quebra, li todos os posts dessa primeira página e cara... Realmente, as coisas parecem estar duras, e diferentes para você.
Você falou sobre morrer. E sobre as moiras.
Não vou nem arriscar comentar sobre como a minha vida psicológica está parecida com a sua, você não saberá se é verdade, assim como eu não sei se isso que você postou era ficção ou não.
Mas eu quero te garantir que você foi uma peça fundamental na minha vida.
A gente deve ter conversado por alguns meses e depois voltamos a nos distanciarmos, você não lembra de mim, e eu só lembro que nos falamos mas nem sei de que.
O importante é que as suas palavras e o seu jeito ficaram em mim. Em uma baita antropofagia, você foi o bife com leite que fortaleceu meus ossos e deu material ao meus músculos. Meu sonho, meu jeito de pensar. Se eu nunca tivesse lido algo seu, eu seria alguém completamente diferente a ponto de não me reconhecer. O que você me deixou foi um baita céu azul na alma, ou uma pincelada azul que mudou completamente o desenho original.
Não vou dizer que você é minha autora favorita, mas pode ter certeza que você é como um "harry Potter" para mim, como você disse num post.
Já se passaram dez dias, e você pode ter superado todos os seus problemas descritos aqui, ou não; mas saiba que eu estarei torcendo por você, assim como mais várias pessoas que conhecem alguns dos seus icebergs, e os adoram de verdade.
(: atééé