hoje, um tempo depois que você saiu e quando eu já estava mais apresentável, eu comprei um cigarro. Não veja isso como uma afronta ou algo tipo - e eu sei que você vai entender que não é -, mas é que você não gostava que eu fumasse e, de alguma forma, qualquer uma, eu precisava me convencer de que nós não estávamos mais juntos. Não sei se ainda estou plenamente convencida, mas a fumaça ardeu na minha garganta e secou as minhas lágrimas. Você disse que eu tava estranha esses dias, e eu tava mesmo. É que eu estava com medo. É que semana passada eu sabia que era a última vez. Eu percebi. Ontem eu dormi muito tarde, pensando na vida, tentando imaginar como seria daqui pra frente. Eu já sabia. Saber talvez seja uma palavra muito forte; eu desconfiava. E eu fiquei com medo, e fiquei triste, é claro, porque eu queria que fosse bonito. Mas veja só a injustiça que eu estou cometendo; foi bonito sim, disso eu não tenho dúvidas. Eu só não queria que acabasse. Mas eu entendo, porque eu teria feito o mesmo. Eu teria dito o mesmo. E talvez por entender tão bem assim seja tão mais difícil. Eu nem estou com raiva, nem nada do tipo. É só que eu não conseguia falar mesmo. Você sabe, eu não posso falar quando tô chorando, senão choro mais ainda. E eu ainda vou chorar, porque sou dessas, mas é só tristeza - não porque podia ter dado certo, mas porque deu, e acabou assim mesmo. Eu escrevi uma vez que existem poucas coisas mais bonitas do que entender que tudo precisa ter um fim. Eu queria ter te agradecido, mas não consegui na hora. Então agradeço agora, por tudo.
2012-01-30
2012-01-26
Everything's fine until it's not II - ou um pouco mais a declarar
Ontem eu estava assistindo um filme quando me lembrei da "melhora da morte" - aquele momento em que uma pessoa muito doente, já desenganada, melhora subitamente sem nenhum motivo aparente. E então morre no dia seguinte. Pensei então em como eu estava me sentindo bem esses dias, subitamente renovada, como se finalmente as coisas estivessem no seu lugar, e em como seria irônico se isso fosse algum tipo de calmaria antes da tempestade - pra dizer o mínimo.
E isso, senhoras e senhores do júri, é um exemplo perfeito da minha auto-sabotagem.
Vou tentar considerar isso como só mais uma ~flutuação de humor~, e vamos vivendo. Não tem outro jeito de saber como as coisas vão ficar, afinal.
2012-01-13
Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof
mi.li.tan.te adj. e (s2g.) 1. Que(m) milita ou luta por uma causa, uma ideia, etc. 2. Que(m) participa ativamente das lutas de um partido, sindicato, etc.
a.ti.vis.mo sm. Atuação dedicada a serviço de uma doutrina ou ideal de cunho político-social.
Desculpem o meu ataque de Capitão Dicionário, mas é que eu precisava ilustrar. Eu tive receio dessas duas palavras (e variações delas) durante muito tempo. Passada essa fase do receio, veio outra: a de achar que eu não tinha o direito de me considerar parte do movimento porque não fazia muita coisa por ele. De mais ou menos um ano pra cá, eu entendi, e foi como quando eu entendi o que era ser escritor.
Ser escritor, pra mim, não é apenas uma profissão. Eu digo que sou escritora não porque trabalhe ou estude isso, mas sim porque é o que eu sou. Não é uma questão do que você faz, e sim do que você é. E com o tempo aconteceu algo parecido com a ideia que eu fazia do ativismo. Não protestar na rua, não carregar cartazes, não ter muita visibilidade... Não é só isso que te faz ser militante de alguma coisa. Hoje em dia eu considero da seguinte forma: o ativismo começa a partir do momento em que você consegue olhar ao seu redor, perceber e questionar o mundo e, finalmente, quando começa a a tocar outras pessoas com essa percepção. Hoje eu entendo, e muitas vezes eu comentei aqui mesmo o quanto estava cansada e de quantas vezes eu me calei. E olha que, em certos aspectos, eu até que sou paciente.
Mas hoje me aconteceu uma coisa. Eu e um amigo estávamos explicando pra um outro amigo o que é a transsexualidade. Começou do jeito que sempre começa: ele não entendia, não sabia os termos (e são muitos, e são pouco conhecidos), confundia os pronomes, etc. Nós continuamos. Em mais ou menos uma hora, nós já tínhamos falado tudo o que podíamos e sabíamos sobre o que era ser transsexual, ser transgender, sobre como isso não tinha a ver com a sexualidade em si, identidade de gênero e já estávamos chegando no feminismo. Explicar essa caralhada de conceitos geralmente é um questão de paciência e repetição, mas no final da conversa nosso amigo já tinha absorvido exatamente o que a gente tava querendo dizer.
A parte triste é que esse tipo de situação é rara. Na maioria das vezes, o primeiro contato das pessoas com esse assunto não é tão esclarecedor assim. Mas dessa vez foi, e serviu pra me dar mais um motivo pra continuar. Até algumas semanas atrás eu estava cansada e desmotivada com muita coisa, mas hoje não - principalmente depois da abertura do Minoria é a mãe. É que agora eu entendo, por mais doloroso e exaustivo que seja, como vale a pena. Ver o meu amigo começando a refletir antes de trocar os pronomes, entender porque pronome tal era o certo e não o outro, isso sim vale a pena, porque esse é o momento em que você toca o outro. Vamos ser clichês: se não me engano, foi Einstein que disse uma vez que a mente que se abre pra uma nova ideia nunca mais volta ao tamanho original. É bem esse o espírito.
Eu sei que as reações não são positivas assim sempre, é claro. Mas vale a pena, meu bem. Vale sim.
2012-01-05
Outubro, 1997
- Você me amou?
Ouvi a pergunta e continuei lavando as mãos normalmente, mas minha mente parou no meio do ato. Amor não era exatamente meu tópico de conversação preferido; pra falar a verdade, estava bem no topo da lista de assuntos que eu passei a vida toda evitando.
E agora isso.
Enxuguei as mãos e saí do banheiro. Ele ainda estava sentado ali, esperando a minha resposta. Tinha perguntado se eu amei, não se eu amo, e só esse detalhe me fez perceber, mais uma vez, que o tempo tinha passado. Eu não podia culpá-lo por talvez ainda me ver do jeito que eu era antes, porque eu também fazia isso. Só em alguns momentos – como esse – eu percebia que o tempo tinha passado pra ele também.
- Amei. Mas eu tenho certeza de que te disse isso na época.
- Mas talvez agora você ache que foi coisa de adolescente.
- E foi mesmo, mas isso não é de todo ruim, é? O amor aos dezesseis anos também tem lá a sua beleza.
- Não estou desmerecendo isso... Mas é que talvez você não tivesse certeza.
- Eu não tinha. Acho que essa é a graça das coisas de adolescente: a gente não tem certeza de nada, mas se entrega como se tivesse. Mas sabe o que eu nunca entendi?
- O quê?
- Como você me amou esse tempo todo. Não o porquê, que isso eu já desisti de entender e não importa tanto assim. Mas como? Às vezes eu penso até que não é possível, pra falar a verdade. Eu não sou exatamente o melhor tipo de pessoa pra se amar.
- Se você tivesse me dito isso há uns quinze anos, eu chamaria de drama. O problema é que é verdade, mas o que eu posso fazer? A gente se acostuma com tudo.
- Agora sim você tá falando direito. Toda aquela história de por que e talvez e se isso e aquilo outro não faz o seu tipo.
- Faz o seu.
- É, faz. Mas você anda estranho mesmo, perguntando coisas...
- É que às vezes eu canso, Will... Eu tento me colocar no seu lugar, juro que tento. Mas acho que cheguei numa hora em que não consigo ser mais nada além de egoísta.
Não pude evitar um sorriso.
- Se você soubesse como eu tenho vergonha de tudo que eu te fiz, que falei, que escrevi... E eu só queria isso, sabe? Esse tempo todo eu só não conseguia suportar essa... essa nobreza infeliz que você insiste em ter. Essa coisa de me querer feliz. Eu te provocava porque queria que você me desse uma rasteira, que entrasse na minha casa de noite gritando, que fizesse qualquer coisa. Mas não. Você é padrinho do meu filho, foi no meu casamento, respondeu minhas cartas, ficou no hospital quando eu tava internado. Você frequenta a porra da minha casa. Nós somos amigos. Me diz como foi que isso aconteceu? Porque eu fico olhando e não entendo, porque não faz sentido nenhum.
Ele não disse nada, é claro. Nunca dizia, porque sempre sabia que em pouco tempo eu ia me calar e me arrepender de tudo que falei. Mas eu não podia deixar de pensar que, talvez pela primeira vez em muitos anos, estávamos começando a sair do lugar.
2012-01-01
Just for the record
Pra falar a verdade, eu nem sei bem como definir 2011. Acho que ele está lá junto com 2005 e 2007 na lista de anos estranhos. E somos todos bem grandinhos pra saber que estranho que não é necessariamente uma coisa ruim. De janeiro até dezembro, não teve um mês em que não me acontecesse alguma coisa... nem sei definir que tipo de coisa. Só aconteceu. Como eu escrevi em algum post em algum momento, a vida começou a bater na minha porta. Quando eu atendi, ela não foi doce de imediato. Esse ano eu tive que entender que, pra muitas e muitas coisas, eu estou sozinha, completamente sozinha. Pra outras, nem tanto, contanto que eu não estrague tudo de novo. Esse ano eu chorei, sonhei, morri, nasci de novo, escrevi, li, assisti, fodi, mudei, cresci, trabalhei, dormi e, principalmente, amei.
Eu gosto de fim de ano, e em janeiro costumo ter aquela esperança inofensiva de que as coisas vão mudar. Vou confessar que hoje, agora, eu não estou assim. Acho que fiquei meio desanimada de ontem pra hoje mesmo, e seria complicado de explicar aqui sem pelo menos uns outros tantos parágrafos enormes. Eu não estou fazendo sentido hoje.
Teve um momento em 2011, alguns meses, em que eu não conseguia mais pensar nos meus personagens. A realidade caiu na minha cabeça com tanta força que a única vida que eu conseguia ter na minha cabeça era a minha. Percebo hoje que eu não sei viver; quando as coisas estão ruins, eu pioro. Quanto estão boas, dou um jeitinho de estragar.
O fato é que, independentemente do tempo que eu ainda tenha (falei como uma moribunda agora, né. abstraiam.), eu só quero que seja doce.
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