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2012-09-13

01 reflexão

oh wait

Quando vi o trailer de The Perks of Being a Wallflower no cinema, experimentei uma sensação esquisita. Achei tudo bonitinho e fiquei com vontade de ver, mas de algum modo sabia que aquilo já não me pertencia mais. Há algum tempo eu venho tendo essa percepção de que, de repente, os filmes, séries e livros sobre adolescentes já não são mais sobre mim ou para mim. Não gosto de dizer isso, sempre soa como uma desculpa surreal, mas dessa vez eu acho que é a idade, sim. Vivi os últimos cinco anos da minha adolescência preenchendo a falta de um ensino médio “comum” com personagens; era como ver tudo o que eu sentia sendo colocado no ambiente “certo”. Mas de repente, agora, mal tendo completado vinte anos, me pego assistindo My So-Called Life com a nítida impressão de que meu tempo já passou. Já não me identifico mais com aquilo; mas já me identifiquei. E é essa noção de tempos passados que se torna meio assustadora. Um dia desses eu tava assistindo um episódio muito tranquilamente, sem nem pensar nessas coisas, quando aconteceu a cena de um beijo. Um beijo simples, de uma menina de quinze anos e o menino que ela gostava; o ponto alto do episódio. O ponto alto da vida dela naquele momento. Acho que foi aí que aconteceu a cisão. Cinco anos atrás, se eu estivesse assistindo isso, provavelmente teria ficado feliz como se fosse uma conquista minha. Identificação genuína. Hoje em dia, eu fiquei feliz pela Angela. Porque me tornei apenas uma espectadora e, ainda assim, fiquei agradecida por ainda achar a cena tão bonita, mesmo que ela tenha se tornado tão simples pra mim e mesmo que eu já não relacione mais a minha vida com a dela. Quando digo que é a idade, acho que quero dizer que é o contexto para o qual acabamos sendo levados pelo tempo (fez sentido isso? espero que sim, q). O tempo foi passando e eu saí da escola, terminei curso, entrei na faculdade, comecei a trabalhar. O tempo vai passando e de repente você percebe o real significado de não tê-lo. Você percebe que seus amigos são pessoas espalhadas por todo canto, que assim como você também estudam, ou trabalham, ou ambos, e que assim como você precisam de semanas até conseguir marcar um encontro em que todos possam estar juntos no mesmo lugar. É uma sensação curiosa, essa de sentir o tempo efetivamente passando por você. Não é ruim; é só que eu nunca pensei que fosse chegar até aqui e, tendo chegado, nada se pode fazer além de continuar. Talvez seja isso que eu veja agora nos personagens adolescentes; de repente tenho a noção de que nem sempre acaba ali e alguns deles talvez tenham se tornado os personagens com os quais me identifico agora. Talvez.

2012-09-12

Tales of contemporary horror


Estar eternamente despreparado para a vida. Achar que precisa estar preparado para alguma coisa qualquer. Buscar um sentido. Encontrá-lo e não saber o que fazer com ele. Remember you must die. Fazer um esforço descomunal para depois sentir tudo escorrer pelos dedos. Não suportar ninguém; muito menos a si mesmo. Sofrer a angústia das pequenas coisas ridículas. Remember you must die. Esquecer-se de quem é. Fugir do passado sabendo que eles não está nos lugares, não está nas pessoas; está em você mesmo. Remember you must die. Memento mori. Remember you must die.

Há algo de reconfortante e - por que não? - assustador em se identificar com personagens. Os meus preferidos formam uma galeria de fucked up people que se estende indefinidamente, mostrando que o mais triste não é que você não seja o único assim, mas sim que todo mundo ao seu redor também o seja.

2012-09-09

Sobre protestos, nudez e pluralidade


(esse post foi escrito pro Minoria é a mãe, na verdade. mas ele ficou meio ~datado~ e vou postar outra coisa, então vai aqui mesmo antes que se perca nas profundezas do google docs.)

Uma crítica comum contra pessoas que protestam nuas é que elas estão prestando um desserviço à causa feminista. Especialmente se essa pessoa tiver peitos. Aliás, principalmente porque essa pessoa tem peitos. O argumento é que a nudez seria uma forma errada de chamar atenção, especialmente a atenção de homens que objetificam essa nudez e não estão nem aí para o protesto em si.

A verdade é que isso acontece, sim. Se a mulher anda por aí com o corpo descoberto, ela está desrespeitando as pessoas. Ou, pior ainda, provocando os homens! Roupa curta demais? É uma vagabunda, está querendo se mostrar, provocar, depois não reclame se for estuprada. Roupa nenhuma, então? Putz. Dificilmente uma pessoa que estiver em algum lugar com os seios à mostra não será objetificada, avaliada como um pedaço de carne. É por essas e outras que pra muita gente ainda é ineficaz, sim, ver uma pessoa nua protestando por algo.

Ainda assim, eu não considero um desserviço. Não sou eu quem vai decidir qual forma de protestar é válida e qual não é, mas não me parece que tirar a roupa seja uma das inválidas em todos os contextos. Pode ser mal interpretado? Pode, sim. Mas até aí todas os ativismos podem, e isso não é razão para eles deixarem de existir ou de se manifestar. Até porque, se nos lembrarmos bem, eles são mal interpretados justamente por causa do motivo pelo qual protestamos. Irônico, não?

Colocando isso de uma forma mais simples, eu vejo o ato de tirar a roupa em protesto mais ou menos como ressignificar termos. Queer, por exemplo. Até pouco tempo atrás, a palavra queer significava apenas bicha ou estranho, em inglês. Hoje em dia essa palavra perdeu tanto do seu significado ofensivo que vem sendo usada para designar todas as identidades não-hetero e/ou não-binárias. Em algum momento, convencionou-se que devemos usar roupas para “esconder nossas vergonhas”. Não é que amanhã todo mundo deva sair de casa pelado e seguir alegremente para o trabalho; é só que existe um trabalho enorme de desmistificação da nudez a ser feito, que está diretamente relacionado a cultura do estupro. É só que toda vez que uma mulher aparecer nua, ela será avaliada e sexualizada. 

O assunto voltou à tona com as dúvidas ao redor do Femen Brazil. Outras pessoas já falaram disso melhor do que eu, mas o que eu queria mesmo comentar era a pluralidade de manifestações de cada causa. Uma das primeiras coisas que eu li quando comecei a ter contato com o feminismo foi uma frase muito simples: não existe um só feminismo. Parece um conceito estranho quando você vê de fora, ainda sem conhecimento nenhum sobre o assunto, e só depois passa a fazer sentido. Quando pensamos em um movimento - seja ele o feminista, o LGBT* ou o anti-racista, por exemplo -, achamos que todos os membros dele estão lutando por um mesmo conjunto de ideais, que seguem os mesmos “preceitos”, que concordam em tudo. Mas isso não chega muito perto da verdade. Existem manifestações diferentes, interpretações diferentes e ramos diferentes - e eu estou longe de conhecer sequer metade deles ainda. Existem, claro, bases em comum e identificação, mas o que eu percebo é que é a ideia da “incoerência” que é usada como argumento para invalidar não apenas a reinvidicação, mas sim até mesmo a existência de um movimento qualquer.

“Se existe preconceito dentro do movimento LGBT*, como vocês podem ter direito de lutar contra o preconceito?”

“Como levar a sério o feminismo se existem divergências?”

Existem minorias dentro das minorias. Existe preconceito dentro de movimentos contra o preconceito e, não, isso não é certo mesmo. E, no entanto, isso não invalida a causa. O fato é que há muito mais coisas pra se lutar e que o buraco é bem mais embaixo - crescemos todos no mesmo contexto que tentamos mudar e, como todo o resto, também precisamos ser mudados.

Hoje em dia o que eu acho estranho não é ver duas pessoas que defendem a mesma causa discordando de um ponto, mas sim imaginar um movimento em que não houvesse diálogo, em que a única coisa que bastasse fosse preencher certos requisitos e ser permitido fazer um protesto “limpinho”. Quando se propõe mudança, se propõe conversa.

Dentro dessas nuances estão as diversas formas de protestar e conscientizar. Eu posso ir numa marcha, posso tirar a roupa ou não, posso escrever um livro, escrever um post, dedicar minha vida acadêmica aos estudos de gênero, aplicar isso em outra área, posso falar sobre isso com as pessoas que convivem comigo, posso subir em algum lugar com um microfone e tentar falar com mais gente, posso fazer um zine, posso promover discussões, posso fazer tudo isso e muito mais, e posso até mesmo ser atingida por alguma dessas atitudes e me tornar uma parte do resultado positivo que faz com que elas continuem. Será o suficiente? Talvez nenhuma dessas ações seja, a curto prazo. Mas isso não as torna menos importantes.

2012-09-06

The greatest thing you'll ever learn

...is just to love and be loved in return.

"(...)Mas não sei. Talvez eu não tenha explicado direito, essas coisas são difíceis. Mas é só isso no fim das contas, não é? Quando você quer ficar com alguém. Você só quer estar com aquela pessoa, de algum modo. Se vocês namoram, ou se casam, ou envelhecem juntos, tudo é consequência. Só começa porque vocês querem ficar juntos no sentido mais simples que a expressão pode ter. Faz sentido?"

Eu estava escrevendo isso numa fic anteontem e, quando olhei pro parágrafo de novo, percebi que fazia sentido sim, e muito. A gente tem essa mania de separar o amor romântico das "outras formas de amor", seja lá o que for isso, mas por quê? Será que faz tanto sentido assim? Fiquei pensando nisso e chegando a algumas conclusões. É tudo tão simples e eu gosto muito quando certas coisas se reduzem à forma mais simples possível. Estou muito feliz aqui com a minha epifania de que, se um dia eu fizer uma auto-biografia, vou poder dizer sem sombra de dúvidas que amei, amei muito, e fui amada de volta. That's a good feeling.