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2011-07-22

Fragmentos

Nessas últimas semanas eu tenho desenhado bem mais do que escrito e, quando paro pra pensar, até que faz sentido. Quando não estou de férias não tenho o tempo e a paciência necessárias. Descobri até meu horário perfeito: entre três e cinco horas da manhã. Sento tranquilamente com minhas coisas e vou desenhar; sem barulho nenhum, sem problema nenhum. Eu não sinto pelo desenho o mesmo que sinto pela escrita, mas aí também já seria pedir demais; eu apenas gosto, e também me sinto de certa forma recompensada quando termino e minhas mãos estão sujas de grafite. Gosto do desenho "sujo", borrado, uso o grafite mais macio que consigo encontrar (ou, melhor dizendo, que não consigo mais encontrar pra comprar) e as manchas ficam lá, nos meus dedos, no papel, nas linhas que eu não apago, nas sombras. 

*

Acho engraçado como as coisas acontecem. Eu estava no 6v agora, vendo uma discussão sobre personagens, do tipo que eu mesma teria participado ativamente há, sei lá, um ano ou talvez menos. Eu li um pouco, concordei com algumas coisas, discordei veementemente de outras, mas, como tem acontecido com cada vez mais frequência, não cheguei a clicar em Responder. E, bom, eu até queria responder. Eu saberia o que dizer. Eu ia gostar de dizer. Mas eu não digo mais. A palavra certa não é preguiça, mas é algo parecido com isso. É uma espécie de não se importar mais, de não precisar mais. Há muito tempo, quando eu via algumas pessoas comentando sobre isso, eu não imaginava como era, nem sequer entendia. E olha só... Acho que talvez a palavra certa seja distanciamento. Talvez eu já tenha dado tudo o que tinha que dar, e não tenho mais a energia necessária pra repetir toda a minha opinião de novo. Hoje eu apenas observo, e vejo algumas pessoas chegando, outras saindo, algumas novas discussões, outras nem tanto. É engraçado isso, porque parece que pela primeira vez eu consigo ver o fandom de um jeito mais amplo, consigo vê-lo como um todo. Porque isso não é de todo ruim, por mais que pareça. Porque de alguma forma não me soa como um afastamento, e agora eu entendo por quê.

2011-07-15

After all this time?

(quando estava escrevendo eu pensei em que blog este post deveria ficar. na verdade, eu soube desde o começo que, como prometido, postaria no .status quo., mas me pareceu injusto deixar o baby fora disso. enfim, está postado nos dois blogs por razões sentimentais e é isso aí.)

Eu comecei a escrever isso muitas vezes e nunca cheguei nem da metade de tudo o que gostaria de dizer. Parece que nunca era a hora certa, ainda não tinha chegado aquele momento específico em que a necessidade de escrever é maior do que a simples vontade.

Mas o fato é que, em algum momento de 2001, eu estava inocentemente passando pela sala enquanto o trailer de Harry Potter e a Pedra Filosofal estava passando na televisão. Parei por alguns segundos, tempo o suficiente para pensar “hum, legal” e continuei meu caminho até outro cômodo da casa.

Esse foi o meu primeiro contato com Harry Potter, se é que posso chamá-lo assim. Algum tempo depois, já em 2002, eu fui assistir a Câmara Secreta no cinema, sem saber muito da história além do fato de que havia um garoto bruxo envolvido em altas aventuras. Nessa época eu tinha dez anos e não muito interesse em assistir filmes que não fossem animações no cinema, mas fiquei maravilhada. Com o castelo, principalmente. Mais algum tempo depois eu peguei emprestado o quarto livro. Não me perguntem por que, eu realmente não lembro por que diabos comecei a ler pelo quarto. Depois li o terceiro, o segundo e então o primeiro. Elegi Harry Potter como meu livro favorito e então comecei a ganhar um livro a cada aniversário e Natal. Tinha começado.

O que eu tenho a dizer sobre Harry Potter não é muito diferente do que outras tantas pessoas já disseram, mas nem por isso é menos verdadeiro. Veja bem, eu sei que é apenas uma série de livros. Sei inclusive que não são os melhores que já li e já não são mais os meus favoritos. Mas eles estiveram lá, entende? É isso que importa.

Eu não acho mais necessário dizer que Harry Potter me trouxe amigos, ou que me ensinou tanta coisa, ou até mesmo explicar o que seriam essas coisas. Isso todo mundo já sabe, e eu também. E uma das primeiras coisas que eu aprendi foi justamente que os livros, as palavras, unem as pessoas.

Harry Potter me lembra livros lidos em qualquer hora, qualquer lugar, só pelo prazer de saber o que vai acontecer. Me lembra a espera pelo próximo livro, os dias em que os ganhei de presente, os sites e joguinhos toscos de cinco, sete anos atrás, as seções de rumores. As fics. E pensar que até o começo desse mês eu não me lembrava de como sentia falta das fics. Me lembra, é claro, o 6v e todas as pessoas que eu conheci nele, e as que chegaram agora e eu não vi porque estive tanto tempo ausente.

O último livro saiu em 2007, no ano em que eu entrei no CEFET. E último filme estreou exatamente no dia em que o semestre 2011.1 oficialmente acabou e eu, finalmente, terminei o curso. Mais uma forma de abrir e fechar fases. Se eu for contar desde aquele dia na sala, em 2001, são dez anos que se passaram. E dez anos, pra mim, significa simplesmente metade da minha vida.

Eu vou me lembrar de Harry Potter sempre com muito carinho e agradecer por ter tido oportunidade de acompanhar tudo isso. De ter tido oportunidade de crescer nisso, nessas palavras, nessa família, literalmente until the very end. Não é que seja um fim, assim como o último livro não foi, mas certamente é uma despedida. Então, até a próxima, Harry. Estaremos aqui.

Always

2011-07-10

Home is where your heart is

“Solta o Harry Potter e vai estudar pra segunda fase.”

Foi o que o meu irmão me disse em um determinado mês de julho. O ano era 2007, e em outubro eu saí da escola onde estava fazendo o primeiro ano e comecei o integrado em Informática – pra quem não sabe, é aquele curso em que você faz o médio e o técnico ao mesmo tempo.

Desde esse julho, passaram-se exatos quatro anos. Três anos e nove meses se eu contar a partir do dia em que entrei no CEFET – na época, aliás, ele ainda se chamava assim e, assim como meu irmão ainda chama de ETFCE, eu ainda chamo do nome que tinha quando entrei lá: CEFET.

(no primeiro dia de aula, na palestra, o diretor disse que quem entra no CEFET nunca mais sai. ele não estava mentindo, sabe.)

Acho que eu poderia falar sobre a diferença entre o CEFET e as escolas onde eu tinha estudado antes, sobre a diferença entre o médio normal e o integrado, sobre como eu estranhei e me fascinei por aquilo tudo nos primeiros meses. Mas não sei. Eu já falei isso tantas e tantas vezes nos últimos anos e não é que tenha exatamente cansado, mas só parece que não precisa mais.

Existe um jeito muito simples de dizer o que eu preciso, tão simples que talvez não dê pra expressar o que ele tem de complexo, mas o fato é que aquele lugar virou a minha casa, em muitos e muitos sentidos. Talvez eu até conseguisse explicar tudo o que passei lá dentro, mas pra isso seriam necessárias muitas páginas e não é bem essa a minha intenção.

Tenho uma pequena alergia a mudanças e uma preocupação meio tensa de deixar as “fases da vida” muito bem definidas em começo e fim, senão me perco. Sério, mas abstraiam essa parte. O fato é que é por isso que estou escrevendo agora, por exemplo. E foi por isso que escrevi naquela época, quando começou. Talvez eu esteja tentando deixar registrado pra mim mesma que, sim, aconteceu.

Então, sim, aconteceu. E eu queria escrever um monte de coisas sobre isso, sobre o que foi bom e sobre o que foi ruim, queria escrever algo bonito, algo que me doesse, mas que fosse bonito, porque é assim mesmo que a gente escreve. Mas, sinceramente, eu não sei.

Eu sei que minha vida começou, de fato, no CEFET. Sei que não vou conseguir chamar de IFCE ainda sem achar que tem alguma coisa muito errada com essa sigla. Sei que passei esses quase quatro anos andando por todo buraco daquele instituto e ainda assim consigo me surpreender com algum cantinho novo hoje em dia. Que conheci – conhecemos – quase todos os bancos de lá e começamos a entender tantas coisas em cada um deles. Que  mesmo tendo começado a engenharia e garantido mais uns cinco anos, no mínimo, lá dentro, eu vou sentir falta. Das pessoas, sim, mas tem alguma coisa a mais e eu nunca vou saber exatamente o que é. Deve ser o que fica pra trás quando algo se fecha e a gente vai pra frente.

2011-07-05

I'll be there as soon as I can

but i'm busy
mending broken
pieces of the life i had before

*


Quando eu olho pra você agora, Will, eu vejo um homem quebrado. Parece que você já levou tanta porrada da vida que finalmente está começando a se dobrar. Eu vejo um homem duro e amargo e, não me leve a mal, mas a amargura até que lhe cai bem. Acho até que talvez ela sempre estivesse aí, disfarçada de algum tipo de conformismo. É complicado, e eu não falo por mal, mas eu vejo você com os cabelos ficando grisalhos e essa relutância em sorrir de novo e só consigo pensar em como isso é, de certa forma, coerente. Era pra acontecer. Acho que você é uma daquelas pessoas que pensa que não nasceu pra viver mais de trinta anos, e de repente se surpreende quando vê que viveu, sim. Entenda, não é uma questão de envelhecer; nunca foi. É uma questão de tempo, pura e simplesmente. Você pensou que não tinha tempo, e quando viu que tinha não soube o que fazer com ele. É por isso que eu fico triste, Will, quando vejo você quebrando assim. Eu me lembro de você jovem, bonito e impaciente, e dos seus olhos, que nunca mudaram; talvez estejam apenas um pouco mais pesados, porque a gente vê coisas demais nessa vida. Quando você pensa que não tem ninguém olhando, ou simplesmente se distrai, eu vejo um Will menos cansado, um sorrisinho inconsciente, e algumas lembranças que eu também tenho. Só que tudo em você parece dizer que o nosso tempo já passou, e eu quase posso ver você se repetindo isso e aos poucos ir acreditando. É triste, mas é uma daquelas tristezas que a gente sabe que têm que acontecer, porque é aquela que chega quando as coisas começam a chegar ao fim. E existem poucas coisas mais tristes e bonitas nessa vida do que entender que tudo sempre tem um fim.